terça-feira, 22 de novembro de 2011

SAUDADE





"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida".

Clarice Lispector

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Trecho do "Livro das Ignorãças" do manô

VII
No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a criança diz:
Eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona para cor,
mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer
nascimentos - O verbo tem que pegar delírio.


Para entrar em estado de árvore é preciso partir de
um torpor animal de lagarto às três horas da tarde,
no mês de agosto.
Em dois anos a inércia e o mato vão crescer em
nossa boca.
Sofreremos alguma decomposição lírica até o mato
sair na voz.
Desinventar objetos. O pente, por exemplo.
Dar ao pente funções de não pentear. Até que
ele fique à disposição de ser uma begônia. Ou uma gravanha.
Usar algumas palavras que ainda não tenham idioma.


O rio que fazia uma volta atrás de nossa cara era a
imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás de casa.
Passou um homem depois e disse: Essa volta que o
rio faz por trás de sua casa se ???chama enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que
fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.

Não oblitero moscas com palavras.
Uma espécie de canto me ocasiona.
Respeito as oralidades.
Eu escrevo o rumar das palavras.
Não sou sandeu de gramáticas.


 
Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter os ocasos.


( POR MANUEL DE BARROS)

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

ESTAMIRA


ESTAMIRA, PRESENTE!
Curitiba - 28/07/11

Ontem a tarde (27 de julho de 2011) Estamira Gomes de Souza, mulher negra da classe trabalhadora, catadora de lixo no Aterro do Gramacho (Rio de Janeiro) nasceu ao contrário. Tinha 72 anos e morreu cansada, mal cuidada e principalmente: não ouvida (paradoxalmente tão escutada no mundo inteiro). A protagonista do filme que leva seu nome, dirigido por Marcos Prado e lançado em 2004 agonizou por horas no Hospital Miguel Couto, na Gávea, desassistida pelo SUS e incapaz – como a imensa maioria dos trabalhadores – de comprar sua assistência em um hospital particular.
Os trocadilos apontam que a razão de sua morte se chama 'septicemia', uma infecção generalizada. Poderiam dizer que por ter transtornos mentais, Estamira deveria ter sido assistida em um asilo, ou um hospital/hospício psiquiátrico para que de lá não saísse e morresse em paz, longe do lixo, das moscas, longe da família, longe daquele mar que lhe era tão importante. Do outro lado, os que acreditam cegamente nos governos, acreditam que a construção da rede de atenção psicossocial substitutiva à lógica manicomial está consolidada, amplificada e atuante. Não desconsideramos os avanços da instalação da rede, determinada pela lei 10216/2001. Mas, como Estamira nos alertou: existe esperteza ao contrário, não inocência.
De toda forma, Estamira passou sua vida em pé, trabalhando, replicando sua existência dentro dum lixão, desatenta aos levantes manicomiais de empresários-da-saúde-mental que discorrem trocadilos sobre técnicas arcaicas repaginadas, assistência integral, novos medicamentos, cuspindo cifras.. Alheia aos professores de Psicologia que passam o filme nas aulas e todos saem das salas com mal estar, surpresos, com pena. No ano que vem, uma nova turma assistirá sua história. Tudo bem: esta arte nos permite a distância, a contemplação, o não envolver-se e o não implicar-se.
Escutamos Estamira e observamos mais uma que sofre numa massa de trabalhadores negros, homens e mulheres que apodrecem todos os dias. Estamira é apenas mais uma entre os milhares de loucos da classe trabalhadora que já não valem mais nada ao sistema do capital e que por isto – e só por isto – são jogados no lixo para se confundirem ao inútil e ao descuido nos aterros e favelas do país.
O cinismo deste sistema traveste seu discurso delirante, denunciativo, agressivo e violento em “poesia”, “uma forma atípica de expressão”, “obra de arte”. Esta forma de arte não nos importa. Não queremos lembrar de Estamira apenas quando seu filme recebe mais um prêmio internacional. Acreditamos que não basta lamentar sua morte em cento e quarenta caracteres, num pio. Reivindicamos a vida e obra produzida ao longo dos dias de vida de Estamira. Com todos os seus direitos humanos negados, todos os serviços de saúde de má qualidade, sua péssima condição de moradia, seu trabalho precarizado, a educação negada. Seus e de todos os trabalhadores.
Não nos interessa a mera constatação de que algo vai errado. Interessa a luta pela efetividade da atenção à saúde mental no Brasil. Interessa a consolidação de equipes multidisplinares, a efetivação da Reforma Psiquiátrica, a redução de danos, a porta aberta nos equipamentos, a defesa intransigente de uma vida digna e sem desigualdade social para todos os trabalhadores. Lutando, honramos Estamira e todos os seus irmãos e companheiros desconhecidos, que nunca estrelarão um filme mas que também querem visitar o mar.

Estamira! Mulher negra, resistente, trabalhadora!
Presente!
TEXTO: César Fernandes, psicólogo militante da luta contra os manicômios e pela construção do socialismo

.


 
" Sou louco porque vivo num mundo que não merece minha lucidez"

Bob Marley

terça-feira, 26 de abril de 2011

AH! OS RELÓGIOS




Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...

Mario Quintana - A Cor do Invisível

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Linda

Os meus olhos não te vêem
Mas insistem em procurar
O bem estar é o teu estar
Acordar com você
Linda
Pra você vou cantar toda vida

Dedico esse som de corácion
Da melhor safra cabernet savignon a senhorita Lamaison
Apesar dos apesares
da distância de lares e olhares
Te tenho todo o tempo
Te tenho num longo segundo
Tão longo que confundo
Breves instantes com a história do mundo
Versos submersos num profundo mar de saudade
A intensidade da nossa verdade
me remete a paz e a tranqüilidade
E me conforta mais um dia
Agradeço com alegria e escrevo a minha história
Notória de sorrisos e lágrimas
Na busca por vitórias em todas as páginas
Onde as vírgulas são você
Coisas lindas me lembram Dê que me lembra de coisas lindas
Pessoas passam vidas e desconhecem esse estado de graça
Uns chamam de conversa outros chamam de chalaça
Eu acho graça pois o tempo passa
E só confirma o valor do que eu guardo aqui sozinho
Envelhecendo como vinho e buscando mais sabor
Feliz por abrigar em meu peito tamanho amor

(A Filial)
 

terça-feira, 5 de abril de 2011

eu somente

" Olhar preso no meu, perdidamente.
Não exijas mais nada. Não desejo também mais nada, só te olhar, enquanto a realidade é simples, e isto apenas".
Navegando eu vou sem mar
Para que um dia eu volte a caminhar em terra firme,
Meu sol já se foi a tanto tempo, naquele dia que não volta mais,
Meus dias são nublados como se estivesse anestesiada, não sinto mais dor, mais o buraco que tenho em meu peito e maior que todas as dores de todos os sentimentos que consigo sentir,
Se pudesse voltar nada eu deixaria de dizer,
Não faltou amor,
O que faltou foi dizer que sem ter você fica difícil de querer lutar nisso que chamamos de vida.


"Quem Sabe um Dia
Quem sabe um dia
Quem sabe um seremos
Quem sabe um viveremos
Quem sabe um morreremos!

Quem é que
Quem é macho
Quem é fêmea
Quem é humano, apenas!

Sabe amar
Sabe de mim e de si
Sabe de nós
Sabe ser um!

Um dia
Um mês
Um ano
Um(a) vida!

Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois
Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois

Libertar primeiro, ensinar depois
Alimentar primeiro, cantar depois

Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, julgar depois

Navegar primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois"


quarta-feira, 30 de março de 2011

Lembranças do meu Auto Ego


Quantas vezes se tem uma crise de existência na vida?

  
Pânico por não ter certeza do que se quer, ou do que se é, pensar no que as pessoas pensam ou espera de você parece ser ainda mais difícil.
Pensar no que você realmente buscou a sua vida inteira pode ser de grande ajuda para encontrar a resposta.
Porem quando se sonhou sonhos impossíveis, no meio do caminho podemos ter os deixado para traz. Sempre é hora de se recompor, sonhar coisas novas, ou voltar a buscar os sonhos do passado.
Ninguém tem o direito de dizer o que temos que ser, nem sonhar!
Nada, tudo, isso é ser relativo.
Porque lutamos tanto para ser feliz?
Talvez a felicidade esteja no caminho percorrido, naquele que por muitas vezes fechamos os olhos achando que mentindo para o “eu interior”, chegaremos mais rápido ao ponto final da realização.
Sabe quando você sentiu aquele medo em um assalto ou acidente, aquela adrenalina, sua vida passando rápido na sua mente, você parou de pensar em tudo, e em um momento controlou seu tempo.
E o que é o tempo?
Senão a marcação que demos a vida.
Talvez você já esteja morto, isso que se chama de vida podem ser apenas recordações.
E se for?
Você sabe por que acorda todos os dias? Porque come todos os dias? Porque estuda? Porque trabalha? Porque quer ser amado?
Essas são algumas perguntas que raramente passa sob nossas mentes, já estamos acostumados a viver só e tão somente pelo ato de viver, esquecemos dos objetivos principais dos quais sempre idealizamos em nossa simples e frágil vida.
Mais a final o que somos?
Se não existisse religião, nem explicação cientifica, o que seriamos por dentro, se somos feitos da mesma matéria, então como conseguimos pensar, e cada um de uma forma inexplicavelmente diferente, de onde vem o mundo que vive em torno da bola que chamamos de cabeça.  Eu e você somos o que afinal?
Seria alma? Seria espírito o que nos diferenciaria uns dos outros?
E o medo? Seria o contrario de felicidade?
São repostas ou perguntas que movem o homem?
A loucura é se não somente um estado de espírito do qual um ser pensante pode alcançar, por um trauma ou por tantos motivos que nem se pode imaginar. Loucura é um momento de encontro pessoal de você com você mesmo.
E se temos tantos defeitos o que nos faz amar outro ser-hu-ma-no?
Ate quando vamos lutar para nos tornarmos o que satisfaz o outro, sem olhar para nos mesmo. O que eu quero importa, e eu quero ser EU sem me esforçar em ser o que não sou.
Já nascemos cansados!
Talvez seja por isso que nunca um dia possamos pensar e nem obter as repostas de tantas perguntas.

terça-feira, 29 de março de 2011

aquelequemetraz

aquelequemeleva

Posso Perguntar? (Ellen Oléria)


Então eu entro nessa prosa
Sem saudade.
E quando paro pra escutar vejo se é tarde
Tarde pra sentir o aroma
Desses cabelos negros,
Negros como o tempo
Em dia que te vi partir.

Partir minha estrada vida,
Estrada de terra batida,
Em antes e depois
Do dia em que te conheci.

Era leve o vento que senti roçar a pele
Me arrastando como ao pólen.
Carregadas nuvens cobriam meu céu

Choveu, choveu.
Molhando minha terra seca.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo
de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa
de me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença é qualquer coisa
como a luz e a vida

E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto
e em minha voz a tua voz
Não te quero ter porque
em meu ser está tudo terminado.
Quero só que surjas em mim
como a fé nos desesperados

Para que eu possa levar uma gota de orvalho
nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne
como uma nódoa do passado.
Eu deixarei ... tu irás e encostarás
a tua face em outra face

Teus dedos enlaçarão outros dedos
e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei a minha face
na face da noite e ouvi a tua fala amorosa

Porque meus dedos enlaçaram os dedos
da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência
do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só
como os veleiros nos portos silenciosos

Mas eu te possuirei mais que ninguém
porque poderei partir
E todas as lamentações do mar,
do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente,
a tua voz serenizada.

quinta-feira, 24 de março de 2011

ATRASO PONTUAL

Ontens e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relogio?
Nada poderia ter sido feito,
a não ser o tempo em que foi lógico.
Ninguém nunca chegou atrasado.
Bençãos e desgraças
vem sempre no horário.
Tudo o mais é plágio.
Acaso é este encontro
entre tempo e espaço
mais do que um sonho que eu conto
ou mais um poema que faço?

Paulo Leminski

http://www.youtube.com/watch?v=8BVkO58-FuI

quarta-feira, 23 de março de 2011

VOCE




Seus belos elos transparentes.
Um brinde a existência, falida e ao mesmo uma bela vida que só espera ser vivida como se fosse um grande espetáculo,
experiência são muitas ,as vezes as pessoas deixam a vida passar sem dar tempo ao tempo e registrar no seu livro da vida ,todo o cotidiano vivido,todas as grandes descobertas.
Vivencia e mais vivencias experiências inacreditáveis que só se pode acreditar se estiver presente,no entanto a solidão bate a porta e com elas todos os sentimentos.
Na caminhada agente acaba dando a cara a tapa, o corpo as experiências, e ai é só se jogar que as coisas acontecem de uma forma mágica talvez de uma forma lúdica ou talvez pelo simples fato de que elas tem que acontecer.
Estou aqui e ao mesmo tempo posso estar em outro lugar ,conhecendo outras pessoas lugares ,e é claro me alto conhecendo e essa é a parte mais difícil conhecer a nos mesmos,nossas falhas, nossos amores, desejos e sonhos,o ser humano. “êxtase”
Em londrina: muito trabalho,amigos verdadeiros,problemas,amores mal resolvidos,cresças,meu mundinho diluído em esperanças e sonhos.
Em floripa: descobertas,trabalho,amores,conquistas,loucura os dias não passam e ao mesmo tempo passam tão rápido que se transforma num universo paralelo tudo é tudo,o corpo se dilata e ao se tornar sensível você pode viver e experimentar coisas que sentado para o mundo nunca iria sentir,risadas,piadas,personagens,crianças, historias,mundo encantado.
Faço o que é melhor pra viver em paz...
“Os adolescentes da minha geração, ávidos pela vida, esqueceram de corpo e alma as ilusões do porvir, até que a realidade ensinou a eles que o futuro não era do jeito que sonhavam e descobriram a nostalgia”
Nunca escrevo aqui,escrever é uma forma de colar as vivencias registradas para que nunca se apague da memória,talvez por falta de tempo de vontade ou inspiração,mais o mundo gira e os momentos eternizados estão dentro de cada individuo.dentro daqui...
“é a minha formulinha que junto com a sua formulinha,juntas se torna uma,e assim será diferente com outra e outra pessoa, porque cada um tem uma essência”.
E como uma pessoa especial me disse um dia, “não sou eu quem me navega quem me navega é o mar”...
E ai eu respondo “deixa o mar te navegar , de um mergulho nesse mar, e assim a água possa lavar sua alma e lhe mostrar a felicidade.(estou aqui)
\\ peço é simplicidade, simplicidade pra amar, simplicidade pra viver,viva e ame,seja você!

segunda-feira, 21 de março de 2011

O último poema

Assim eu quereria meu último poema

Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais

Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas

Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume

A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

quinta-feira, 17 de março de 2011

TUDO



Não tem como evitar, o bem e o mal sempre andam juntos.

A batalha espiritual esta na mente.

Cabe a cada um de nós escolher que caminho seguir.

Cuidemos para que não haja atalhos.

Ele tem o poder de atontear, fazendo com que o retorno para a estrada principal torne-se mais dificil.

As escolhas são importantes,para trilhar um caminho de paz.


Porque a vida é mesmo

Coisa muito frágil

Uma bobagem

Uma irrelevância

Diante da eternidade

Do amor de quem se ama.