quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Carta ao Papa - Antonin Artau



“O Confessionário não é você, oh Papa, somos nós; entenda-nos e que os católicos nos entendam.
 Em nome da Pátria, em nome da Família, você promove a venda das almas, a livre trituração dos corpos.
Temos, entre nós e nossas almas, suficientes caminhos para percorrer, suficientes distâncias para que neles se interponham os seus sacerdotes e esse amontoado de doutrinas afoitas das quais se nutrem todos os castrados do liberalismo mundial.
Teu Deus católico e cristão que, como todos os demais deuses, concebeu todo o mal:
1°. Você o enfiou no bolso./
2°. Nada temos a fazer com teus cânones, índex, pecado, confessionário, padralhada, nós pensamos em outra guerra, guerra contra você, Papa, cachorro. Aqui o espírito se confessa para o espírito.
De ponta a ponta do teu carnaval romano, o que triunfa é o ódio sobre as verdades imediatas da alma, sobre essas chamas que chegam a consumir o espírito. Não existem deus, Bíblia, Evangelho; não existem palavras que possam deter o espírito.
 Nós não estamos no mundo; ó Papa confinado no mundo; nem a terra nem Deus falam de você.
O mundo é o abismo da alma, Papa caquético, Papa alheio à alma; deixe-nos nadar em nossos corpos, deixe nossas almas, não precisamos do teu facão de claridades”.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Moção de Repúdio dos Trabalhadores da Cultura à Política do Coturno em Pinheirinho

De um lado, pelo menos 1.600 famílias que lutam pelo direito de morar no 
bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), ocupação que tem oito 
anos de existência. Do outro, mais de 2.000 policiais militares e civis cumprindo 
ordens da Justiça Estadual e da Prefeitura de São José dos Campos, em favor 
da massa falida da empresa Selecta, pertencente ao mega-especulador Naji 
Nahas.
Ainda que não houvesse outras circunstâncias agravantes no caso, já seria 
possível constatar que as instâncias dos poderes executivo e judiciário fizeram 
a opção, em Pinheirinho, pela lei que protege a especulação imobiliária, em 
detrimento do direito das pessoas à moradia.
Vence mais uma vez a política do coturno em prol do capital. De um lado, 
bombas, armas, gases, helicópteros, tropa de choque. Do outro, dois 
revólveres apreendidos. Não há notícia de que tenham sido usados. Uma praça 
de guerra é instalada - numa batalha em que um exército ataca civil.
Não há plano de realocação das famílias. As que não conseguiram ou não
quiseram fugir, ou receberam dinheiro para passagens para outras cidades, ou 
estão sendo mantidas cercadas, com comida racionada, como num campo de 
concentração. A imprensa não pode entrar no local, não pode fazer entrevistas, 
e os hospitais da região não podem informar sobre mortos e feridos. O que se 
quer esconder?
O Governo do Estado lavou as mãos diante do caso, assim como o Superior 
Tribunal de Justiça. O Governo Federal tardou em agir. A chamada "função 
social da propriedade", prevista na Constituição Brasileira, revelou-se assim 
como peça de ficção, justamente onde a ficção não deveria ser permitida.
Mais uma vez, o Estado assume o papel de "testa de ferro" para as estripulias 
financeiras da "selecta" casta de milionários e bilionários. A política do coturno 
em prol do capital vem ganhando espaço. Assim está acontecendo na 
higienização do bairro da Luz, em São Paulo , preparando-o para a 
especulação imobiliária; assim vem acontecendo na repressão ao movimento 
estudantil na USP, minando a resistência à privatização do ensino; assim 
acontece no campo brasileiro há tanto tempo, em defesa do agronegócio. Os 
exemplos se multiplicam. E não nos parece fato isolado que, hoje, a quase 
totalidade dos subprefeitos da cidade de São Paulo sejam coronéis da reserva 
da PM.
Nós, trabalhadores artistas, expressamos nosso repúdio veemente a esse tipo 
de política. Mais 1.600 famílias estão nas ruas: a lei foi cumprida. Para quem?